sexta-feira, 12 de abril de 2013

The Company You Keep

Realização: Robert Redford
Argumento: Lem Dobbs (baseado no romance de Neil Gordon)
Elenco: Robert Redford, Shia LaBeouf, Julie Christie, Stanley Tucci, Nick Nolte, Richard Jenkins, Susan Sarandon, Brendan Gleeson, Sam Elliott, Terrence Howard e Chris Cooper


Robert Redford está de volta, mas em muito má forma. Está velho ao ponto de acharmos que a qualquer momento lhe pode cair uma orelha, está velho de mais para tentar ser o bom actor que nunca foi, está ainda mais velho que os outros velhos todos que reuniu para fazer este filme mas, sobretudo, está velho de mais para correr! Olhar para um Redford de 77 anos a "correr" e a "saltar" vedações, faz-nos instintivamente tapar os olhos em aflição. Tanto é, que o único factor de suspense presente neste suposto thriller, é a constante dúvida de quando ou como Redford irá ter um enfarte, partir uma perna ou deslocar a bacia antes de conseguir terminar o filme.

O resto do filme é igualmente fraco e deprimente, mas com alguns pontos a favor. Vou começar pelos golpes altos, para depois poder cascar à vontade. The Company You Keep é um thriller político que reúne todos os desgraçados dos amigos de Redford e lhes dá uma facadinha no currículo. No meio, alguns são tão bons actores que se conseguem desviar da mediocridade do guião e entregar uma boa performance. São estes: Shia LaBeouf, Richard Jenkins, Susan Sarandon e Brit Marling. E estes quatro merecem todo o meu respeito, porque conseguiram fazer com que não me levantasse e saísse a meio do filme. Todos os outros deviam estar, ou reformados, ou mortos. Redford está péssimo (péssimo!); Christie é outra que nunca foi boa actriz mas agora chega a ser embaraçoso; Nolte é um canastrão que parece ter uma bola de cuspo constantemente presa na garganta e ninguém faz o favor de lhe dar umas pancadas nas costas para ver se aquela merda pára de borbulhar cada vez que ele fala; Gleeson é o gajo mais irlandês do mundo a tentar interpretar um rancheiro norte-americano (o resultado é que passamos meia hora a acreditar que tem uma deficiência de fala); Cooper, Tucci e Howard são bons actores mas aqui aparecem tão pouco que nem merecem referência.

Quanto ao filme, Redford é um bom realizador. Tem sentido de estética, dá-se maravilhosamente bem em paisagens naturais, em cenários abertos - mas não sabe filmar um thriller. Não sabe, pronto. Deixou um atrasado mental qualquer agarrar numa boa história e escrever um argumento de merda, cheio de plot points, personagens e reviravoltas e, por cima disso tudo, tentou conjugar esse clima frenético com uma realização plácida, estudada e contemplativa. Para o espectador, isto torna-se bastante confuso. Não percebemos quando é que é suposto ficarmos nervosos, ou quando é suposto pararmos para cheirar as flores. É como se as imagens nos dissessem uma coisa, e a história outra. Depois, todo o desenrolar da narrativa é fraco... não percebemos o que motiva os personagens, nem percebemos bem o que Redford nos quer transmitir. Andamos a baloiçar entre velhos esquerdistas - uns que se arrependeram (e bem) de serem esquerdistas, e outros que continuam a viver como se tivessem 20 anos (inclusive utilizam expressões como brother, yeah man e largam um like, you know entre cada três palavras). Isto não interessa a ninguém. Era muito mais interessante Redford ter agarrado nesta ideia, e explorado apenas os personagens, atendendo a diálogos profundos e close-ups intimistas. Porque isto é um filme sobre pessoas, em que o realizador parece estar constantemente mais interessado em filmar espaços.

Mas pronto, já chega de cascar no velhote. Já provou - num passado distante - que é um bom realizador. Fez um dos filmes da minha vida, uma adaptação do clássico de Norman Maclean, And a River Runs Through It. Protagonizou bons filmes, sempre conseguindo esconder a sua falta de talento relativamente bem, e montou o festival de Sundance com as suas próprias mãos. Por isso merece o meu respeito e a minha admiração mas, sobretudo, merece que o Estado lhe pague uma boa reforma para não ter de fazer mais filmes de merda como este.


Golpes Altos: Richard Jenkins e Shia LaBeouf são TÃO bons actores que, quando aparecem, parece que estamos num filme diferente. Brit Marling é a actriz revelação dos últimos anos - esta foi a sua primeira aventura fora do cinema independente... coitada. Boa realização em espaços abertos, um realizador do campo sem dúvida.

Golpes Baixos: O resto. E tantos velhos, porra.

15 comentários:

  1. O Shia fala-me ao coração.
    O Redford deve achar que é o Bruce Willis, mas versão arraçada de Clooney. O pior é que não é um, nem outro.

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  2. Epah pois não, não é mesmo... E tá um velho estranho, parece cheio de botox!

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  3. Não vi o filme mas fico-me pelo teu último parágrafo: nunca fui um acérrimo fã de Redford mas é sem dúvida um daqueles nomes que merece respeito.
    Além de And a River Runs Through It, que é maravilhoso, Ordinary People é também muito, muito bom. E como actor, concordando plenamente contigo em que nunca foi elite, tem alguns filmes memoráveis: Butch Cassidy and the Sundance Kid, Jeremiah Johnson, The Sting (top!), All the President's Men e um dos meus filmes de vida, Out of Africa - ok, é verdade que a Meryl faz quase tudo sozinha mas ele também vai bem, naquele estilo de conquistador/safari man misterioso, lol!

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  4. Ordinary People também é sim sr! E adoro todos esses filmes do Redford e mais alguns! No que toca ao África Minha, tenho uma opinião politicamente incorrecta mas sentida:

    Podia ser o filme da minha vida, só não é por causa da Meryl Streep (2ª pessoa que mais me irrita no mundo, a seguir ao Sócrates). O Redford para mim é o melhor do filme!

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  5. Não estava à espera. Quando vi o trailer e principalmente o elenco pensei que podia um grande filme! Sendo assim acho que me dedico a outros e espero por esse para alugar... :)

    E concordo com tudo o que disseste do Redford. E o Jenkins, adoro-o! :)

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    1. Sim, não merece mesmo o bilhete de cinema :/ O Jenkins é o meu velho preferido a seguir ao paul newman! Tens que ver o The Visitor!

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    2. Ahhh o The Visitor! Já vi claro! Ele está gigante nesse filme! :)

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  6. Ahah, sabia que devia estar à espera duma dessas!
    Melhor actriz pós-Hepburn, irrite-te ou não, lol!

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    1. lolol pah nem a consigo avaliar de forma objectiva. acredito que ela é boa actriz porque toda a gente parece pensar que sim, mas a mim mete-me nojo o som da voz dela... "I had a farm in Africa" foi a frase com a pior interpretação verbal da história da humanidade!

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  7. buddy! Desvendei o teu problema...

    Tu odeias tudo o que é bom e muita gente gosta... Mas olha que há coisas unânimes que são MESMO boas...

    Qualquer dia achas a Portman feia...

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    1. 1º Portman feia, nunca!

      Mas não é nenhum gosto especial com o ser do contra ou achar que é fixe ir contra as massas. é verdade que considero as massas estúpidas por norma, mas também é verdade que há coisas que são tão boas que é impossivel toda a gente não as adorar... algumas coisas acho só que são sobrevalorizadas (o que não quer dizer que não as ache boas), como o DeNiro e o 2001 Odisseia no Espaço lol

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  10. A Rebeca escreveu e passo a citar:

    "Dica: investiga antes de comentares. Se tivesses alguma formação ou fosses 'da área' cinematográfica as duras críticas não te ficariam tão mal. Mas não é o caso."

    Escreveu-o 2x e depois veio apagar os comentários.
    Aqui não aceitamos auto-censura :)

    Mas sim, um comentário ao nível do Relvas.

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  11. Ahahah Becky, aqui apreciamos a crítica e o blog faz-se disso. Já agora: 1) eu tenho formação. 2) eu não preciso de investigar porque já sei tudo. 3) as duras críticas caem-me que nem uma luva.

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