segunda-feira, 20 de maio de 2013

Golpes de Génio - Paris, Texas

Realização: Wim Wenders
Argumento: Sam Shepard
Elenco: Harry Dean Stanton, Dean Stockwell e Nastassja Kinski

'I knew these people... these two people... They were in love with each other. The girl was very young, about 17 or 18 I guess. And the guy was quite a bit older. He was kind of raggedy and wild. And she was very beautiful, you know?'

Existem duas formas de perder alguém, dois tipos de amor e duas cidades chamadas Paris. O Paris de Wenders ignora as luzes e as promenades - troca-as pela solidão imensa do deserto, pelo solo por onde caminham os heróis solitários, os cowboys de coração partido. O Paris de Wenders é no Texas, e serve apenas para lembrar o herói de que existiu algo no seu passado pelo qual valeu a pena viver.

Este tornou-se um dos filmes mais marcantes da minha vida. Voltei a sentir aquele conforto adolescente de quando descobrimos uma coisa que sabemos ser nossa para sempre. Não sei se é o ambiente criado por Wenders, a imagem nostálgica de Kinski ou os diálogos de Shepard que, de tão verdadeiros, tornam-se cruéis. Sam Shepard, o guionista, é um homem raro. Actor consagrado, realizador experimental, guionista, escritor de romances, de contos e dramaturgo vencedor de um Pulitzer. Aqui, toda a iconografia do imaginário de Shepard se transforma em cinema pela mão mágica de Wenders -  e nunca se viu um casamento mais feliz.

Não me quero estender muito sobre um filme que é destruído quando desconstruído. Para mim, Paris, Texas é sobre perder quem se ama. Travis, o personagem principal, perde a mulher que ama duas vezes - a primeira, por não saber o que fazer com o seu amor e, a segunda, quando finalmente o descobre. A primeira perda é por um amor doentio, que o transtorna e o enlouquece, fazendo com que vagueie durante 5 anos sozinho pelo deserto. Travis perde a mulher que ama por não a saber amar, tal como o seu pai perdeu a mulher que amava por ter criado uma imagem dela que não correspondia à verdade - 'He said to people she was from Paris, France. He got this notion about her, this sickness..'.

Pior que não amar, é não saber o que fazer com o amor. Travis vagueia, sozinho, pelo deserto, como tantos vaguearam antes dele e muitos vaguearão depois. Porque o nosso amor, quando afastado, torna-se solitário e, citando Tennesse Williams: 'Nobody ever gets to know anybody.. We're all sentenced to solitary confinement inside our own lonely skins, for as long as we live on this earth'.


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