domingo, 29 de junho de 2014
Locke
Realizador: Steven Knight
Argumento: Steven Knight
Actores: Tom Hardy
Um Homem, um BMW, um Telemóvel e uma luta pessoal. Estas peças montam um dos filmes mais interessantes dos últimos tempos. Um exercício de introspecção, uma cadeia de decisões, um enorme carácter e convicção sem limites.
Um Homem é confrontado com uma decisão muito difícil, apercebemo-nos que é uma pessoa respeitada, que é uma pessoa eficaz em tudo o que faz. O seu passado leva-o a decidir-se por um caminho que sente ser o correcto, aquele que devia ter sido trilhado em tempos por outra pessoa e que ele sente agora ser o seu dever. Um dever que coloca tudo em causa, uma decisão que pode mudar a sua vida por completo. Um exemplar profissional pode agora ficar sem emprego, um Pai de família dedicado pode agora ficar sem casa, mas o caminho tomado é o correcto, é o único que ele sente ser possível de decidir.
Tom Hardy confirma aqui a sua dimensão como actor. Um filme onde ele está sozinho o tempo todo com as suas amarguras, com a sua decisão, com a memória que o corta por dentro, com um auto-controle épico que nos transmite uma bomba-relógio constante, tudo com uma calma na voz que sai da boca para fora, no sentido de deixar para ele a tensão, numa forma de estar no mínimo muito altruísta.
Enorme papel dentro de um carro, ao telefone, a tratar da sua vida e dos seus compromissos. Todos eles com uma posição nobre, com uma decisão difícil mas só ao alcance dos grandes Homens. E sempre sem trânsito...essa barreira que parece ser a única que ele simplesmente não pode controlar, e que o deixa desconfortável tantas são as vezes que o menciona... Um Homem obcecado pelo controle absoluto dos seus passos, sem esquecer também os dos outros.
Tecnicamente é um filme complicado de se distinguir, o Realizador às tantas repetia os "truques" possíveis ao filmar-se um carro, as luzes à noite, a estrada, as imagens duplicadas pelos espelhos dos carros, bla bla bla... Não é filme de realizador, é filme de actor e de argumento, e aí não falha em nada.
Claustrofóbico, tenso, dá que pensar e tem um papel estrondoso pelo meio... Por mim é portanto imperdível.
Golpes Altos: Tom Hardy, Argumento, tensão e murro no estômago.
Golpes Baixos: A forma como é retratado o "diálogo" com o Pai. Não era fácil ser bem feito...
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quinta-feira, 26 de junho de 2014
Stories We Tell
Realizador: Sarah Polley
Argumento: Sarah Polley
Actores: Michael Polley, John Buchan, Mark Polley, Sarah Polley
Todos temos histórias de vida, histórias da nossa família, amigos, namoradas, trabalho, férias, loucuras, tudo... Todos nos sentamos à mesa e contamos os nossos momentos, partilhamos fugas que fizemos e repetimos as mesmas histórias uns com os outros.
Mas também temos zonas escuras, bocados de história menos claros ou menos charmosos, momentos que simplesmente não são partilháveis, momentos que por vezes escondemos e que só este ou aquele sabem. E se a nossa história saísse dessas mesas íntimas?
Este filme é literalmente o filme da vida da realizadora. A Sarah expôs-se com uma coragem gritante e que sem o apoio da família seria impossível. Sarah conta a história da sua família, colocando o epicentro na sua Mãe, mulher fascinante, sonhadora, criativa, daquelas que enche uma sala e desperta corações. Mãe essa que morreu ainda ela era nova e, com a ajuda dos familiares, decide recolher momentos que a Mãe viveu, que a Mãe deu a viver e que influenciaram como nunca a sua própria vida.
Uma coisa é certa: nem todas as famílias têm histórias que davam um filme, mas outra também é certa: não é preciso uma história do outro mundo para se fazer um bom filme.
Este é de facto um grande filme, uma das maiores surpresas que tive nos últimos tempos.
Imaginem-se a ver um filme de uma mulher sobre a vida da sua Mãe, uma pessoa que não conhecemos de lado nenhum mas que pouco depois, percebemos que há ali tantos pontos comuns com este ou aquele momento da nossa própria história... É uma sensação estranha entre a introspecção e o voyeurismo. Algo que cruza o universo da partilha e da cusquice...
Os personagens não existem... são pessoas como nós, com a mesma capacidade que temos para comunicar, para chorar, para lembrar e para reflectir sobre aqueles momentos que nos marcaram para sempre. Uma dinâmica adorável que culmina na tal partilha através de uma exposição enorme.
Apaixonei-me pelo Michael, o narrador e "Pai" da Sarah... Incrível este Homem... A facilidade e nobreza com que assume as coisas, com que define o raciocínio, com que escolhe as palavras. Foi sem dúvida para mim a pessoa que "conheci" este ano que mais me fascinou :)
Vejam este filme, mas vejam mesmo... é uma história como qualquer outra mas que podia ser a vossa...
Golpes Altos: Tudo... este filme é de topo... Até a banda sonora é óptima! E o final? QUE BOM!
Golpes Baixos: Quem encontrar que aponte...
PS: só quando vim escrever isto é que descobri que a Sarah tinha realizado e escrito o Take This Waltz... E faz muito sentido.
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Stories we tell
Haley Osmet -> "I still see dead people?"
Ainda dizem que não faz mal ter pesadelos...
Este gajo pegou no dinheiro que ganhou no 6º Sentido e comeu-o...
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The Sixth Sense
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Retrospectivas – David Fincher
1992. Alien 3. Típico filme “ou adoras ou odeias”. Disruptivo, estranho, mentecapto, claustrofóbico.
Eu venero, considero-o uma pérola
diferencial na sucessão a duas obras-primas mais “clássicas” da saga, mas conheço
muito boa gente que o detesta (até o próprio é um crítico acérrimo). Mas uma
coisa é inegável: não deixa ninguém indiferente. É marcante, indigesto até. E
aos 30 anos não é uma má estreia na realização.
1995. Segunda longa-metragem, sai
um dos melhores thrillers norte-americanos dos últimos 20 anos. Seven.
Pitt começa a mostrar-se noutro
género – até aí os seus papéis relevantes tinham sidos em épicos romanceados
como A River Runs Through It
e Legends of the Fall –, Freeman
confere seriedade e sobriedade ao projecto e Spacey rebenta todas as escalas e
mais alguma com uma daquelas interpretações de época: curtas aparições, poucas
falas e um impacto visceral. John Doe ecoa durante alguns meses na nossa
memória e Fincher transporta-nos para o universo dum The Silence of the Lambs, obrigando muitos a tomar nota do seu
nome.
1997. The Game. Fincher
confirma a sua veia meio lunática num jogo surreal onde nada é o que parece.
Bom filme. Não é excelente, longe disso, mas é filmado de forma segura,
bem dirigido – um Douglas competente e um Penn com excelentes momentos – e sustenta-se
sempre numa tensão e num jogo de espelhos que nos agarra até final. Pena o
desfecho, mas Fincher redimir-se-ia meses depois.
1999. À quarta película e poucos anos volvidos da estreia, eis Fight Club. O filme de culto que todos
os criadores da nova geração querem fazer mas pouquíssimos conseguem. Um Rebel Without a Cause dos nossos dias.
Ninguém esperava algo assim. Fight
Club é um exercício cénico brilhante, uma dissertação surrealista, uma
descarga de violência e lunatismo ímpares. Nada faria prever que num ano com
tão bons filmes como American Beauty,
Magnolia, Being John Malkovich, Sweet
and Lowdown, The Insider ou Boys Don't Cry, seria a sórdida e psicoterapêutica adaptação da obra homónima de Chuck
Palahniuk a elevar-se sobre tudo o resto. Sem obviamente ter qualquer reconhecimento ao nível de prémios ou nomeações. Claro.
A esse “aparecimento” segue-se
uma carreira sólida, bem delineada, a
tocar em vários géneros, mas em última instância com um regresso quase sempre
natural ao thriller. Zodiac (2007),
um policial negro e cerebral, e The
Social Network (2010), provavelmente o melhor “filme empresarial” pós-Wall Street, são as grandes obras fincherianas dos últimos anos.
Embora nada chegasse a Fight Club. É e será a sua obra-prima. Intocável. Como li algures, "Fight Club is shaping up to be the most contentious mainstream Hollywood meditation on violence since Stanley Kubrick's A Clockwork Orange."
David Fincher teve algum impacto no cinema norte-americano das duas últimas
décadas. Diria até muito para quem gosta dele como eu.
Pulsante mas coeso, inovador e sempre estimulante, o tipo introvertido de
Denver que veio da direcção de vídeos musicais (chegou a vencer Grammys e MTV
Videos com Stones e Timberlakes) acabaria por tornar-se naturalmente num dos nomes principais do “novo
cinema americano”, do qual fazem parte cabeças tão distintas como P. T. Anderson,
Darren Aronofsky, Spike Jonze ou Wes Anderson.
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quinta-feira, 5 de junho de 2014
Godzilla (2014)
Argumento: Max Borenstein (guião), Dave Callaham (história)
Actores: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Ken Watanabe, David Strathairn, Sally Hawkins
O Trailer era muito bom... Uma abordagem aparentemente mais "dark" do famoso monstro, uma comparação imediata aos negros acrescentados ao Batman, ao Superman, ao próprio Spiderman... Uma abordagem ao Monstro quase invisível em modo Alien... E de facto é isto tudo... Durante 40min... um terço do Filme é pouco para se tornar sequer um Filme interessante. Fui ao engano!
Começa bem, clichés fora e a coisa faz-se. A queda do Filme coincide com o desaparecimento do melhor actor... A partir daí é "parrada" da grossa quase até ao fim... Acho mesmo que podiam ter evitado cair nessa tentação. A história agradável da Natureza se equilibrar com estes seres, a história de haver uma batalha paralela à que temos com os monstros, tudo isso é de facto interessante, mas a tentação falou mais alto e embora os cenários apocalípticos sejam uma paixão minha, estes não tiveram o desenvolvimento mais arriscado mas sim o mais óbvio.
O actor principal tem a mesma expressão quando morre um familiar, quando compra uma peça de fruta ou quando salva a humanidade... Os actores secundários têm qualidade mas o Watanabe parece estar constantemente com vontade de ir ao WC... E eu gosto dele!
A mensagem da arrogância do ser-humano é boa, os métodos mais avançados terem pouca utilidade também, o regresso ao analógico também... O filme até tem detalhes interessantes e como já referi, um início prometedor... Mas depois o chip-mainstream-boxoffice é enfiado à força e estraga tudo.
No final só falta cantar "O Godzilla é nosso amigo! Vamos fazer amigos entre os animais..."
Golpes Altos: O Trailer, os primeiros 40min, a história paralela aos Humanos, as criaturas.
Golpes Baixos: Cair no erro de fazer mais do mesmo depois de nos alimentarem com um bom suspense ao início.
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segunda-feira, 2 de junho de 2014
Wadjda
Realizadora: Haifaa Al-Mansour
Argumento: Haifaa Al-Mansour
Actores: Waad Mohammed, Reem Abdullah, Abdullrahman Al Gohani, Ahd, Sultan Al Assaf
Como podem perceber pelos nomes, é um filme Árabe Realizado por aquela que é a 1ª Realizadora na Arábia Saudita. Isto explica o Filme que é uma enorme chamada de atenção para o mundo, um grito que ouvimos falar, um grito que sabemos discutir por alto entre amigos, mas também um grito que não conhecemos nem sonhamos o que é ter a necessidade de o lançar bem alto.
Wadjda é uma miúda que cresce sob a influência "pecaminosa" do mundo ocidental, algo que lhe transforma a forma de ser, a forma de estar, o ser carácter forte e determinado e que, obviamente, lhe traz problemas numa das sociedade mais conservadoras de sempre, que trata as mulheres como personagens secundárias num universo de Homens.
Uma criança que ainda não sabe o que é ser mulher, percebe desde cedo que vai andar tapada a vida toda com burka para não "seduzir" os homens só por eles lhe verem o cabelo, que tem de falar e rir quase sem som para os homens não a ouvir falar mais alto que eles, que tem amigas também elas crianças a casar com adultos num casamento "arranjado", que não deve trabalhar junto de homens, que não pode estar num local a ser vista por homens se não estiver tapada, que não pode brincar com rapazes, que não pode levar música para a escola que não pode ter outra cor nos sapatos que não preto, que não poderá tocar no Corão com as mãos se estiver com o período, que não pode sequer andar de bicicleta por ser uma "coisa de rapazes".
A bicicleta no filme é um grito de revolta, um símbolo libertino, um sonho aparentemente inatingível porque a sociedade nunca a deixará fazer parte desse universo, um chamamento à razão de todos os que pensam o contrário. Ela reage a esse impulso com uma determinação universal, algo pouco aceite na sua sociedade.
Um Filme muito bonito e ao mesmo tempo extremamente violento que deixa a nu as cicatrizes que o fanatismo religioso nos deixa por todo o lado... Ninguém pode ter o destino traçado à nascença por razão alguma.
Para todas as Wadjdas deste mundo, para que todas saiam das burkas, brinquem com quem querem e possam sentir aquele vento na cara quando pedalamos sem querer saber de mais nada. A sua história ainda está por contar e esperemos que este Filme tenha essa função, que seja a cara da mudança.
Pontos Altos: A exposição de uma sociedade que não faz sentido existir, a menina Waad Mohammed, as mulheres bonitas que aparecem no Filme e que nunca as veríamos se visitámos o seu país.
Pontos Baixos: Nada a assinalar...
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